A minha vida é um barco abandonado...
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da acção sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
Fernando Pessoa
1 Comments:
...lembro-me de ter respondido,não gosto muito de dizer fiel ...(no caso leitora),era neste poema que pensava..gosto muito...mas amarga ...ás vezes...e porque é que eu acho que não foi assim que me entenderam?porque...sim,e nunca o disse!
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