Quando eu não te tinha...
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor -
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Alberto Caeiro
3 Comments:
Fabuloso este poema...ninguém pisava estes caminhos,habituei-me a percorrê-los só...quando um dia olhei porque adivinhava alguém...era real,quase arte,de ter amor ,escrever? podia ser assim,real.
beijos
concha
Este blogue é um encanto para a alma e os olhos...
O Caeiro é sempre um must
A Elvira tem razão, mesmo :-)
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